Já imaginou dormir e, ao acordar, estar com a tatuagem dos sonhos já pronta no corpo sem sentir dor? É isso que o tatuador de Itapetininga (SP), Rico Ribeiro, promete oferecer aos seus clientes.
Para não sentir dor e nem ver o tempo passar, a única coisa que a pessoa precisa fazer é aceitar ser hipnotizada.
Em entrevista ao G1 para o Dia do Tatuador, comemorado nesta sexta-feira (20), Rico contou que aderiu à técnica de hipnose em abril deste ano após conhecer tatuadores que praticam hipnose em seus clientes e descobrir que poderia diminuir as dores que muitos reclamam.
Ele, que também é policial, artista plástico e já escreveu um livro sobre o poder da mente, ressalta que a tatuagem e a hipnose – que faz com que a pessoa entre em um estado semelhante ao sono por indução – são dois processos que se encontram.
“Ouvia sempre muitas reclamações sobre a dor. Porém, nos casos em que as pessoas se propuseram a fazer a tatuagem com hipnose, tudo se desenrolou de maneira mais tranquila. Assim fui atrás de aprender a técnica fazendo cursos de hipnose em São Paulo”, afirma.
Processo
O G1 acompanhou uma sessão de tatuagem feita com hipnose (Veja vídeo acima) na jovem Camille Melo, de 25 anos. Rico explica que a técnica cria uma realidade de que a pessoa não sinta dor.
“Colocamos uma sugestão que aquela área está totalmente anestesiada. E dá certo. Alguns têm a ideia errada de que podemos controlar a mente, ler pensamentos ou fazerem coisas que eles não querem. Mas não é nada disso”, afirma.
A sessão durou cerca de 1h40, sendo feita uma pré-conversa com a cliente. Em seguida, foi realizada a hipnose, a tatuagem e a saída do transe.
Sintomas
De acordo com o tatuador, há sintomas que configuram o transe, já que o corpo reflete quando está em indução. Segundo ele são:
- A tatuagem não sangra porque a pressão sanguínea ficar alterada;
- As pontas dos dedos ficam geladas;
- O globo ocular fica todo branco;
- O fluxo de respiração fica alterado;
- A temperatura do corpo fica elevada.
‘Lembro de tudo’
A jovem, que já havia se submetido à hipnose uma vez, afirmou ao G1que aprovou a técnica aliada ao processo de tatuagem.
“Quando fiquei sabendo que podia unir a tatuagem à hipnose, eu amei porque sempre gostei de coisas esotéricas. Antes parecia que passava uma navalha na minha pele. Hoje é mais como se fosse uma caneta contornando um desenho”, brinca.
Rico ressalta que praticou em Camille a hipnose de choque. “Como ela já havia feito antes, é um método mais rápido. A pessoa entra em transe em questão de segundos”, diz.
E a jovem garante que a tatuagem feita com hipnose cicatrizou mais rápido e não inchou com as outras que fez no modo tradicional. Além disso, diz que é possível lembrar-se de tudo o que acontece durante a sessão.
“Apesar de ser bem relaxante e nem ter ouvido o barulho da máquina, eu me lembro de tudo. Não conseguia mexer meu corpo ou falar. Mas quando o Rico dizia qualquer coisa eu ouvia nitidamente. É como se a voz dele se destacasse dos outros barulhos”, diz.
O que diz a psicologia?
De acordo com o Conselho Regional de Psicologia (CRP) a hipnose é usada como um recurso auxiliar de trabalho do psicólogo e é proibido, segundo regulamento, usar a técnica como mera demonstração fútil ou de caráter sensacionalista.
O CRP alegou, em nota, que não vai comentar o uso da técnica pelo tatuador.
Ao G1, a psicóloga Ana Laura Schliemann disse que a hipnose pode causar diversos efeitos em uma pessoa.
“Se não for feita com um profissional que passou por uma formação específica para isso, o cliente pode acordar no meio da tatuagem, ter dificuldades para voltar, entre outros pontos”, diz.
Ana ainda fala sobre a confiança em que uma pessoa precisa ter para se tatuar enquanto está hipnotizada.
“Você vai precisar se entregar totalmente a pessoa que estiver te tatuando. Será que isso é conveniente? Muitas pessoas não gostam da tatuagem quando estão fazendo, imagina quando estão hipnotizadas?”, diz.
Fonte: g1.com