A família da menina de 4 anos que morreu após ser picada por escorpião ainda tenta entender porque houve tanta demora para a criança receber o soro contra o veneno.
Yasmin Lemos foi picada por volta das 11h em Cabrália Paulista (SP) e passou por três unidades de saúde em três cidades para então receber a dose de soro antiescorpiônico, por volta das 14h10, na UPA de Bauru.
Ela teve duas paradas cardiorrespiratórias e morreu no início da noite de terça-feira (10). O enterro foi realizado na quarta-feira (11), em Cabrália Paulista.
“Agora nós só queremos saber onde foi erro, para que outras pessoas não sintam a dor que eu estou sentindo. A vida dela não vai voltar, mas eu vou atrás do que é direito, da Justiça”, afirma a avó de Yasmin, Maria Lemos.
Yasmin foi picada por um escorpião quando brincava no quintal de casa. A mãe a levou primeiro para um posto de saúde em Cabrália Paulista. De lá, ela foi levada de ambulância para Duartina, no Hospital Santa Luzia.
Entretanto, desde de março deste ano que o hospital não oferece mais soro contra picada de escorpião. Yasmin foi atendida e permaneceu no hospital por pouco mais de uma hora até ser transferida pra Bauru, de novo pela ambulância de Cabrália Paulista, que foi novamente acionada.
Para a mãe da menina, houve demora no atendimento. “Eu estava em Duartina e, ao invés da ambulância de lá levar a gente, ligaram para uma ambulância de Cabrália Paulista. Aí ela teve que sair de Cabrália, para ir a Duartina e só depois me trazer para Bauru”, contou Letícia Lemos, antes da filha morrer.
Inquérito policial
A Polícia Civil de Duartina abriu uma investigação para apurar se houve omissão de socorro que resultou na morte da menina.
De acordo com o delegado Paulo Calil, titular da delegacia da cidade, tudo será apurado desde o atendimento da menina na unidade de saúde em Cabrália Paulista até a UPA de Bauru, onde Yasmim morreu.
“Inicialmente estamos apurando uma possível omissão de socorro com resultado morte, mas dependendo do que foi comprovado, os responsáveis podem responder até por homicídio culposo”, explica o delegado.
Atendimento
O prefeito de Cabrália Paulista, Zequinha Madrigal (PTB) nega que houve demora da ambulância para fazer a transferência para Bauru. Segundo os registros da prefeitura, a ambulância foi acionada pelo Hospital Santa Luzia de Duartina às 13h04 e às 13h13, o veículo já estava no local para fazer a transferência da menina.
Sobre o fato de ambulância ter levado a menina diretamente para Duartina, sendo que não havia soro no local, o prefeito alegou que o hospital é o atendimento mais próximo e referência para pacientes de Cabrália Paulista.
Já a direção do Hospital Santa Luzia, de Duartina, informou que existe um acordo com as prefeituras determinando que o paciente só pode ser transportado pela ambulância da cidade onde mora. E, por isso, a menina precisou esperar a volta do veículo de Cabrália Paulista para só depois ser levada a Bauru.
Ainda sobre o atendimento de Yasmim, o hospital de Duartina disse que menina foi atendida imediatamente e o médico avaliou que o estado de saúde dela era estável, já que enquanto ela esteve no local não apresentou parada e nem insuficiência respiratória.
Disse também que desde março deste ano, o hospital não recebe mais o soro antiescorpiônico e que a unidade de referência é Bauru, por isso eles fizeram o primeiro atendimento, estabilizaram a paciente e pediram a transferência para Bauru.
O Conselho Regional de Medicina abriu uma sindicância para apurar a conduta do médico que fez o atendimento em Duartina.
De acordo com a direção da UPA do Jardim Vista em Bauru, para onde Yasmin foi transferida, a criança deu entrada na unidade às 14 horas e dez minutos depois recebeu o soro. A UPA também informou que uma vaga em UTI foi disponibilizada no Hospital Estadual, mas por causa da gravidade do quadro de saúde, a criança não pôde ser transferida.
Yasmin teve duas paradas cardiorrespiratórias às 15h e 16h30 e os médicos tentaram reanimá-la, mas ela não resistiu e morreu no início da noite de terça-feira.
Distribuição do soro
Em nota, o Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE) de Bauru esclareceu que não há falta de soro antiescorpiônico na região. No entanto, na mesma nota, a Secretaria Estadual de Saúde afirma que envio de ampolas a São Paulo continua ocorrendo de forma irregular.
Segundo a pasta, a necessidade do estado é de 650 ampolas por mês, em média, mas o Ministério tem feito entrega parcial. Neste mês, por exemplo, foram recebidas 126 ampolas.
Afirma ainda que a aquisição e distribuição de soroantiescorpiônico é de responsabilidade do Ministério da Saúde. O Estado apenas redistribui para os municípios.
Dessa forma, a definição de locais estratégicos para disponibilização de soro contra animais peçonhentos segue política definida pelo órgão federal. A região de Bauru conta com quatro unidades estratégicas para aplicação do soro, localizadas nos municípios de Bauru, Jaú e Lins.
A nota diz ainda quer todos os município têm ciência dos locais de aplicação do soro, porém o GVE irá reforçar as orientações junto às prefeituras.
Em nota, o Ministério da Saúde esclarece que os soros antivenenos continuam sendo distribuídos conforme análise realizada pela Coordenação-Geral de Doenças Transmissíveis (CGDT).
Para essa distribuição é considerada a situação epidemiológica dos acidentes por animais peçonhentos em cada Unidade Federada, as ampolas utilizadas, bem como os estoques nacional e a demanda de cada estado, além do cronograma de entregas a serem realizadas pelos laboratórios produtores.
O Ministério da Saúde envia doses de vacinas e soros aos estados, que são responsáveis por fazer a distribuição aos respectivos municípios.
O Ministério da Saúde reforça a necessidade do cumprimento dos protocolos de prescrição, a ampla divulgação do uso racional dos soros e a alocação desses imunobiológicos de forma estratégica em áreas de maior risco de acidentes e óbitos.
A nota esclarece ainda que para evitar desabastecimento, é importante manter a rede de assistência devidamente preparada para possíveis situações emergenciais de transferências de pacientes e/ou remanejamento desses imunobiológicos de forma oportuna.
Fonte: g1.com