Com a presença irreverente de Marcelo Adnet na composição do samba enredo e assinando a direção artística da escola, a Independente de Boa Vista, escola de Cariacica, cantou sobre o humor e divertiu os foliões no Sambão do Povo, que abraçou o refrão e deu show junto à águia cariaciquense.
“Boa Vista sorrindo e fazendo todo mundo sorrir, do início ao fim, nosso desfile é sobre isso”, destacou o intérprete oficial da escola, Emerson Xumbrega.
O enredo “Humor: tanto riso, oh, quanta alegria… no tom da canção a Boa Vista contagia”, assinado por Márcio Puluker, carnavalesco formado no carnaval do Rio de Janeiro, em parceria com Robson Goulart, conquistou o público e colocou a escola entre as favoritas ao título de campeã do Carnaval de Vitória 2023.
Um dos fundadores da escola, Carlos Roberto, o Baiano, entrou na avenida abrindo os caminhos para a águia. “O Carnaval de Vitória significa felicidade para os capixabas. Nós estamos hoje aqui e a nossa arte vai existir para sempre. É um orgulho para nós abrir o carnaval do Brasil”, afirmou.
Na passarela do samba, uma grande homenagem a nomes do humor brasileiro, como Chico Anysio, Dercy Gonçalves e Paulo Gustavo. A Boa Vista fez questão de lembrar que sem sorriso, não existe folia!
Integrando a comissão de frente, a professora de dança Tainá Vilela não escondia o sorriso, mesmo com um toque de nervosismo, com a responsabilidade de, junto aos outros componentes, abrir o cortejo da escola. “A gente trabalha duro, ensaia bastante para estar aqui essa noite. Esse enredo é um presente depois de tudo o que a gente passou, trazendo alegria e esperança de um futuro depois da pandemia. E o carnaval é a expressão maior da nossa arte, da cultura do nosso estado, que é muito rica, que tem que ser valorizada e a gente tem muito que se orgulhar”, enalteceu.
A divina comédia do samba, já é carnaval!
O teatro mambembe, marionetes e palhaços coloriram o primeiro setor da escola junto com o Rei Momo em um passeio pelo paraíso da comédia. A coreógrafa Márcia Regina Cruz levou para a comissão de frente da Boa Vista “Artistas mambembes” o bom humor dos membros do teatro ambulante, muitas vezes perseguidos pela igreja ao percorrer as cidades do interior. Um boneco marionete articulando dois palhaços e brincando com o público foi o elemento cenográfico que pedia passagem para o desfile da águia.
A composição com o carro abre-alas logo atrás causou um impacto bonito na avenida. Alegoria, batizada de “O grande convite do rei, ao paraíso do humor”, foi inspirada na Divina Comédia de Dante, dando destaque ao paraíso, ao riso. Figuras imortais do humor brasileiro, Paulo Gustavo, Jorge Lafon, Nair Belo, Paulo Silvino, Ronald Golias, Claudia Jimenez, entre outros, estavam ali representados, bem como Jô Soares, Dercy Gonçalves e Chico Anysio.
Na tela da sétima arte
Nas telas do cinema, o humor também brilhou e fez história. Personagens como Grande Othelo e Oscarito, Mazzaropi, os Trapalhões e Dona Hermínia passaram alegres e brincando no Sambão.
Lembrando Nossa Senhora e Jesus do Auto da Compadecida, filme baseado na obra de Ariano Suassuna, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Bruno Simpatia e Vanessa Benitez abusou do sorriso e da sincronia durante a apresentação, defendendo o pavilhão da escola para os julgadores, ladeados por anjos do humor.
Batendo forte e com a irreverência de João Grilo e Chicó multiplicados entre seus componentes, a Águia Furiosa Homenageou o humor nordestino. A fantasia permitiu que os ritmistas se divertissem ao longo do desfile, enquanto mantinham a cadência do samba e levantavam a avenida com as paradinhas e bossas desenhadas pelos mestres Gustavo Mascarenhas e Vitor Machado. À frente dos componentes, a rainha Thalita Zampirolli encarnou o bem e o mal como as duas faces do humor.
Vedete do riso brasileiro, a Dercy Gonçalves do filme “Bububu no Bobobó” foi a referência usada para a fantasia dos passistas da escola. A comédia, gênero cinematográfico, virou tripé, sendo enaltecida pelo desfile da escola.
O humor que o brasileiro vê, na TV
Nas telinhas, o humor ganhou os lares brasileiros e reuniu famílias pelo riso. Programas que levaram bordões para as ruas e apresentaram personagens que até hoje são lembrados pelo público passaram pelo Sambão do Povo. Toma Lá, Dá Cá, com as histórias de Bozena “lá em pato branco, daí”; Sai de baixo, que marcou época aos fins de domingo à noite; Pânico na TV; TV Pirata e Pé na Cova ganharam releituras carnavalescas e coloriram a passarela do samba.
Marcel de Souza e Katellyn Monteiro, segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, prestaram um tributo ao humor feito para a televisão.
Do eterno banco da Praça da Alegria em “A Praça é Nossa” aos programas de maior sucesso que já fizeram ou ainda fazem parte da grade da programação televisiva, a segunda alegoria entrou no Sambão numa explosão colorida com “A TV que me faz sorrir!”
O humor em tempos modernos
Qual o verdadeiro sentido do humor? Seria ele apenas um sentimento? Ou seria um “estado de espírito”? Reflexões em torno do tema deram o tom do quarto setor da escola. A ala das crianças, “Uma rede social de alegria”, lembrou que, com a tecnologia e a popularização dos aparelhos celulares, o humor está na palma das mãos. E, na internet, muitas vezes o humor é o caminho que muita gente escolhe para tentar conquistar a fama nas redes sociais.
As lives e o humor online levaram ao tripé “Tecnologia a serviço do humor”, que permite a qualquer pessoa ser comediante e espalhar o riso por todos os lugares.
A identidade do humor brasileiro
O último setor da escola buscou a irreverência para falar de quem, mesmo sem ser comediante, leva a vida com o sorriso no rosto e bom humor. Do taxista ao gari, das piadas entre amigos no futebol até aqueles que fazem do humor uma receita de sucesso na medicina. A Boa Vista pediu aplausos para aqueles como o artista capixaba que leva o deboche e a vontade de brincar de ser feliz de forma séria, em um circo que é para todos, com suas lonas e picadeiros e no sentimento de uma gente feliz.
A ala das baianas teve a vestimenta inspirada nas lonas de circo, espetáculo tradicional que encanta gerações. À velha guarda coube encarnar o humor da vida, com toda a experiência de quem sabe que o riso, muitas vezes, é o melhor remédio para encarar a vida.
A última alegoria da escola armou um grande circo e convidou Tonho dos Couros, a solteirona Marly, Creuzodete e o Palhaço Carequinha para festejar com a águia de Cariacica, que espera rir por último com o título de campeã do carnaval.
Carnaval 2023: Boa Vista esbanja bom-humor na avenida e quer sorrir na apuração
