Na cadência inconfundível da Orquestra Capixaba de Percussão, a Novo Império, campeã da edição de 2022 do Carnaval de Vitória, pisou forte no Sambão do Povo, levada por sua comunidade e pela voz de Kléber Simpatia querendo manter o título na escola.
Com “Imperium, abram alas para vossas majestades”, enredo desenvolvido pelo carnavalesco Paulo Balbino, a azul, branco e rosa de Caratoíra empolgou o público. No último setor do Sambão, na saída da bateria, gritos de “é campeã” foram ouvidos das arquibancadas. Resta saber se os julgadores também avaliaram o desfile assim!
“Vamos comemorar a sétima estrela de olho na oitava! Foi o enredo mais rico que já fiz. Eu quis fazer algo que marcasse a nossa conquista. Convidamos todas as majestades para fazer parte dessa grande comemoração. O resultado tá aí, todo mundo cantando, apaixonado”, afirmou o carnavalesco.
O título de 2022 e a coroa, símbolo da escola, inspiraram o desfile deste ano. A agremiação promoveu, na passarela do samba, um grande baile para comemorar a sua sétima estrela, e acabou “contratando” o rei Momo para ser o cerimonialista da festa. Ficou na incumbência dele, figura tradicional da folia, viajar no tempo e convidar majestades, reis, rainhas, príncipes e princesas, condes e condessas para participarem do cortejo carnavalesco.
O maior destaque da escola na avenida foi a Orquestra Capixaba de Percussão que abusou das bossas, se ajoelhou no solo sagrado da passarela do samba e ouviu, como resposta, não apenas a comunidade, mas o Sambão do Povo inteiro cantando junto com a família imperiana. Entre os ritmistas, Luana Souza, que nasceu na comunidade e está na bateria desde criança. “A expectativa é enorme pra sair tudo certo, como nos ensaios. Eu cheguei bem novinha, querendo aprender a tocar alguma coisa e me apaixonei pelo agogô. É um orgulho fazer parte dessa família, eu cresci aqui”, disse.
Outro destaque no desfile da escola, a voz de Kléber Simpatia ecoou forte no Sambão do Povo. Ao lado dele, Michelle Poltronieri exaltou o carnaval da escola. “A Novo Império é uma escola de comunidade. O Carnaval de Vitória, para nós, significa superação, querer ser campeã novamente. Significa geração de enredo e credibilidade. A escola vem grande, superando dificuldades, com a força imperiana e o profissionalismo no Sambão do Povo”, destacou.
O grande baile
A festa da família imperiana começou levando para a avenida os impérios egípcio e romano. A comissão de frente, “Abram alas para vossas majestades!”, sob a responsabilidade do coreógrafo Patrick Alóchio, reuniu os guardas da corte imperiana às figuras de Rei Momo, Pierrot, Colombina e Arlequim, os grandes anfitriões de uma festa carnavalesca.
As figuras do rei e da rainha no jogo de xadrez inspiraram a fantasia do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Rodrigo Mattos e Thais de Oliveira. Cria da comunidade e porta-bandeira desde os 3 anos, a servidora pública realizou o sonho de defender na avenida o pavilhão de sua escola.
A escola optou por trazer logo à frente do carro abre-alas a ala de passo marcado, simbolizando a visita de Cleópatra ao imperador Marco Antônio. Trazendo a imponência da mulher que governou o Egito Antigo, a primeira alegoria era puxada por três bigas com soldados que faziam a proteção dela.
Guerreiros
Os convidados da festa da Novo Império desfilaram pela avenida, começando por Átila, o rei dos Hunos. A seguir, encarnando Dandara de Palmares, a rainha de bateria Rayane Rosa esbanjou samba no pé e felicidade com seus ritmistas. Sob o comando de mestre Glê, os componentes da Orquestra Capixaba de Percussão representaram Zumbi dos Palmares. Os 180 ritmistas que enlouqueceram os foliões enlouqueceram o Sambão do Povo com bossas de tirar o fôlego e uma apresentação impecável. Ninguém ficou sem sambar!
A ala de passistas da escola sambou majestosa com uma fantasia que homenageava a Rainha de Wakanda. Nesta ala, pelo segundo ano consecutivo, desfilaram a passista trans Scarlet Paz, a passista Karol Bombom Plus Size, e Allinne Pires, que é mãe dos dois passistas mais novos da escola, Jorge Miguel e Pedro.
Lampião, rei do cangaço; Santa Sara, rainha dos ciganos; rainha Nzinga e os turbantes; e os índios, verdadeiros donos desta terra, compuseram o segundo setor do desfile.
O segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira Dener Linhares e Dayse Matta, ela é servidora da Prefeitura de Vitória, representaram a realeza africana, inclusive no bailado, com passos de dança afro. A segunda alegoria da escola apresentou ao público a realeza indígena, levando um grande pajé para a avenida.
Lúdico
Também foram convidados para celebrar a sétima estrela da Novo Império personagens ligados ao imaginário, à diversão e à cultura.
Na passarela do samba, desfilaram Tarzans, o rei da selva, e gorilas, o rei da floresta. O casal mirim de mestre-sala e porta-bandeira, Sylvio Abreu e Maria Alice Santos, bailaram como abelha rainha e zangão. Oxum, rainha dos rios, e Iemanjá, rainha do mar.
O palhaço, rei do picadeiro, também foi convidado para a folia. Diretamente das telonas do cinema, “Priscila, a Rainha do Deserto” também estava presente no Sambão, encarnada por Chica Chiclete, além de uma ala inteira de foliões. Um tripé carnavalizado fez as vezes de ônibus da Priscila, levando suas passageiras divertidas e faceiras.
As baianas imperianas compareceram ao grande baile como Rainhas de Copas, personagem do clássico “As aventuras de Alice no País das Maravilhas”. A ala que representa a resistência e a ancestralidade das escolas de samba tinha como componente mais experiente dona Valdete, ou Val, como é carinhosamente tratada, de 72 anos. Entre as componentes, estavam também a cantora e compositora Fernanda Assis e a atleta master Maura Bonfim, arremessadora de peso que representa o Espírito Santo em campeonatos nacionais.
Os tiranos
E no meio de tanta gente, de tantos personagens, “reis e rainhas” que foram vilões das mais diversas histórias também apareceram.
O setor começa com o terceiro carro alegórico, batizado de “Bruxas”. O destaque principal representava Úrsula, a rainha vilã da história da Pequena Sereia.
Barba Negra, o pirata; Lúcifer; anjos caídos e soldados romanos compuseram o desfile, que terminou com os fiéis percorrendo a via crucis. O tripé com a Pietá rememorava às obras de arte que ornavam os salões das realezas, onde ocorriam os grandes bailes das cortes.
Encerrando o desfile, a velha guarda da escola, com a presença de muitos nomes históricos do samba capixaba, reverenciou o público e deixou a passarela do samba sorrindo, orgulhosa do trabalho feito pela escola.
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