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quinta-feira, maio 2, 2024
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Carnaval 2023: com literatura de cordel Andaraí traz histórias do sertão – Notícias de Vitória-ES

Um desfile arretado e o sol nascendo no Sambão do Povo! Com direito a forró no samba e muita empolgação de seus componentes. A Cobra Venenosa de Santa Martha foi buscar a riqueza da cultura nordestina para seu desfile no Carnaval de Vitória 2023 e o cordel que a escola deseja protagonizar é um só: o de campeã.

Com o trabalho do experiente e campeão tanto na Sapucaí quanto no Sambão do Povo, o carnavalesco Cid Carvalho, a Andaraí levou para a avenida o enredo “Carlos Magno e os doze pares de França: imperador do sertão, soberano da esperança”.

“A escola está preparadíssima, o samba vai nos ajudar a levar esse desfile. Graças a Deus, estamos aqui, de volta, e em paz”, comemorou o intérprete oficial da escola, Lauro de Freitas.

Para desenvolver a concepção do desfile, o carnavalesco se baseou na história, essa verdadeira, de que o livro “História do Imperador Carlos Magno e dos Doze Pares de França”, levado pelos bandeirantes, foi a obra mais conhecida pelos brasileiros do interior do Nordeste, pelo menos até o princípio do século XX. O fascínio despertado pelo livro motivava sessões de leitura em voz alta, permitindo o seu aprendizado inclusive por quem não sabia ler, que a aprendiam de cor.

Muitos cordéis e até o movimento armorial, uma vertente artístico-cultural de valorização das artes populares nordestinas, têm inspiração no livro e nas estórias surgidas e multiplicadas, sobretudo na tradição oral da região.

À frente da escola, vestida de Maria Bonita e com uma cestinha de flores, Lívia Bandeira, 10 anos, entrou para seu segundo ano de carnaval no Sambão do Povo. “Eu represento todas as Marias Bonitas e levo flores para as pessoas. Amo o carnaval, amo ser da minha escola. O carnaval é a minha segunda família e estou muito feliz de estar aqui”, afirmou, graciosa.

Carlos Magno e o ideal carnavalesco na Idade Média

A batalha do monarca francês e os doze pares de França contra os mouros foi retratada na comissão de frente da escola. Trabalho do coreógrafo George Falcão, os 14 componentes contavam uma síntese da história da obra que tanto sucesso fez Brasil adentro. Tanto que ” nenhum sertanejo ignorava as façanhas dos Pares ou a imponência do Imperador”.

A estética medieval foi ricamente trabalhada na fantasia das baianas da escola. Esse ar histórico perdurou até o abre-alas da escola, que representava um castelo medieval todo estilizado, habitado por seres que dominavam o imaginário da humanidade ao longo desse período. Destaque para a bruxa, o dragão de duas cabeças e os dois cavalos enormes.

Visões medievais e a realidade do sertão

Bandeirantes, ou sertanistas, foram os responsáveis por explorar o interior do Brasil. As façanhas do imperador francês foram ganhando esse terreno à medida que as expedições também avançavam. Nessa trajetória, não faltaram vaqueiros; a fome feiticeira; o carcará associado a seres maléficos; o camaleão como paralelo aos dragões medievais; a lua sertaneja que despertava o lobisomem; e as assombrações da floresta branca.

A segunda alegoria da escola, “As assombrações do sertão”, impressionou com a carcaça de boi anunciando a seca feroz. O flagelo da fome foi retratado como uma das maiores assombrações que assolam o sertão nordestino.

Influência do Imperador Carlos Magno na cultura Nordestina

A história épica do imperador francês, segundo registros de Câmara Cascudo, teria influenciado até mesmo o lendário Virgulino Lampião, rei do Cangaço, a liderar seu bando pelos sertões do Nordeste.

Os bonecos mamulengos, que fazem parte da cultura popular nordestina, inspiraram as fantasias do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da escola, Marcos Paulo e Alana Marques. Os guardiões da dupla representavam os balões dos festejos juninos, tão tradicionais na região.

As congadas nordestinas, onde a batalha de Carlos Magno contra os mouros é comumente encenada, também passaram pelo Sambão do Povo.

Símbolo cultural do Nordeste, as rendas e suas mulheres rendeiras ganharam ares de realeza ao serem representadas por Fernanda Passon, a rainha de bateria da Andaraí. Os ritmistas, comandados pelo mestre Kaio Amorim, executaram com louvor a missão de fazer um samba forrozeado, gostoso de ouvir, de cantar e de dançar.

Comandando o naipe de surdos da bateria, Mestre Reginaldo estava empolgado com o samba da escola. Ele tem 42 anos de experiência no Carnaval de Vitória. “A bateria da Andaraí esse ano está tocando o melhor samba do carnaval. Na hora das bossas, mudamos o estilo, o ritmo. A gente toca a música originária do sertão”, explicou.

Os passistas tiveram a missão de representar os caboclinhos, uma dança folclórica executada durante o carnaval por grupos fantasiados de índios que, com vistosos cocares, adornos de pena na cintura, representam cenas de combate, ao modelo do Imperador Carlos Magno.

A literatura de cordel, presente em todo o enredo, ainda virou tripé, representando os livretos artesanais que multiplicam as mais diversas estórias, incluindo as fantasias épicas, que até hoje aparecem nos folhetos impressos.

A ressurreição do sertão: o bem vence o mal

Os profetas do sertão, artistas diversos, famosos e anônimos, orgulhosos de sua cultura e de suas raízes, ajudaram a colorir o último setor da escola. As águas do rio São Francisco, que chegou para irrigar as terras, representavam a esperança dos sertanejos.

O segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, Guilherme Pimenta e Ana Beatriz Campos, representaram o sol, que muitas vezes foi símbolo da seca, ganhou uma releitura como mensageiro da vida.

A farra do boi e a ressurreição da asa branca passaram à frente do terceiro carro da escola: “Castelo da cultura nordestina”, trazendo o colorido, a pulsão da vida, em contraste com o abre-alas, feito em cores sóbrias. Uma carruagem de abóbora era puxada pelos bumbas meu boi. Na parte central da alegoria, quadrilha de São João, com os componentes fazendo passos tradicionais da dança.

O movimento armorial foi o escolhido para encerrar o desfile da escola. A velha guarda, vestida com toda a pompa e garbo das cortes reais do samba, passou sorrindo no Sambão, orgulhosa de sua cultura e de sua escola.

O tripé “Movimento armorial: tributo a Ariano Suassuna” fechou a apresentação da Andaraí. Na parte central, como símbolo da vitória da cultura nordestina, a alegoria apresentava uma coroa ao melhor estilo sertanejo. Nas laterais, a escultura da Onça Caetana, um dos principais símbolos do movimento e, no final da alegoria, o símbolo da agremiação a cobra naja dando o bote, também decorada no melhor estilo sertanejo.

Prefeitura de Vitória ES


Carnaval 2023: com literatura de cordel Andaraí traz histórias do sertão

Foto Destacada na Matéria sobre “Prefeitura Municipal de Vitória”

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