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domingo, maio 12, 2024
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Carnaval 2023: Piedade abre desfile e canta São Benedito e cultura popular – Notícias de Vitória-ES

O carnaval do Brasil começou aqui, em Vitória, na capital capixaba! E para abrir os desfiles do Grupo Especial, primeira escola de samba do Espírito Santo, a Unidos da Piedade desceu com a força de sua comunidade para carnavalizar a história de São Benedito e a influência do santo nas lutas contra o preconceito, a escravidão e a fome, exaltando as vitórias e a devoção do povo negro historicamente construídas e que se refletem até os dias de hoje.

O enredo “Bino Santo e as lutas que ecoam no morro”, assinado pelo carnavalesco Alex Santiago, partiu de contos e da tradição oral para desfilar na passarela do samba as tantas histórias e tantas manifestações culturais relacionadas a “Bino Santo”, “Bino Dito”, o São Benedito, unindo sua ancestralidade e a fé.

“Eu estou desde sempre na escola, nasci lá na Piedade, mas este ano completo 50 anos de desfiles. Estar aqui hoje é sublime, entro quase em estado de graça. A Piedade me constitui como pessoa. É uma responsabilidade abrir o Carnaval de Vitória, mas estamos chegando bem”, destacou Maria Anita Falcão, que é uma das damas da escola.

Nas congadas e procissões, o povo negro construiu uma identidade impar com o santo católico, sincretizado com Catendê, Ossain ou Pretos e Pretas velhas nas religiões de matrizes afro-brasileiras, presente também num dos embates mais famosos de Vitória, a a rixa entre os peroás e caramurus. A bateria Ritmo Forte deu show de ousadia e cadência, com bossas inspiradas em ritmos afro, deixando o samba para o carro de som sustentar junto com a escola. A arquibancada enlouqueceu!

E para a escola passar na avenida, a turma da força, atrás das alegorias, estava animada atrás das alegorias. Marcelo Gonçalves, que é de Realengo, no Rio de Janeiro, era um dos integrantes da turma. “Como todo mundo se ajuda, não fica pesado pra ninguém. A gente segue os comandos da turma da evolução, para, segue, para e segue, mas dá para curtir um pouquinho sim. Eu vou empurrar as alegorias de quatro escolas, amo o carnaval”, afirmou.

A luta pelo vida e o culto a São Benedito

Os elementos históricos da história contada no desfile da Piedade estavam presentes no primeiro setor da escola: os povos africanos, os portugueses, a escravização dos negros e a chegada de São Benedito a Vitória com com frades franciscanos, além das irmandades de São Francisco e do Rosário.

A comissão de frente, representando a saga do santo no Centro da capital capixaba. Com trabalho do coreógrafo Jerdan Nicácio, os componentes apresentação o processo de escravidão e da catequisação pelo colonizador; o encontro dos povos negros com o santo e sua adoração; as lavadeiras, responsáveis por propagar com seus cantos os milagres de Bino Santo que, no carnaval, festejou com a Piedade. O elemento cênico representava um vitral de igreja com a imagem de São Benedito.

A colonização portuguesa, o sistema escravocrata brasileiro e o mar foram as primeiras alas da escola a passar na avenida, trazendo com elas o abre-alas: “O navio negreiro”.

A alegoria causou impacto em quem assistia ao desfile por seu tom dramático, relembrando os horrores vividos pelos escravizados nos porões desses navios, ou calungas, que seriam cemitérios na umbanda. No primeiro destaque, Iemanjá, a rainha do mar. Vasco Fernandes Coutinho, donatário da capitania do Espírito Santo, e Luiza Grimaldi, que doou o terrenos para a construção do convento de São Francisco também estavam representados na alegoria.

Defendendo o pavilhão da escola, o mestre-sala Weskley Blank e a porta-bandeira Andressa Cadete estavam vestidos de João III, “o piedoso”, e rainha consorte Catarina de Habsburgo.

Após o cortejo real, entrou a bateria de Mestre Terêu, que empolgou o público desde o aquecimento, na concentração. Rose de Oliveira, a rainha, estava belíssima com a fantasia “Rosas para São Benedito”, cujo significado era o sonho de liberdade dos escravizados.

Os componentes da Ritmo Forte representavam os devotos da Irmandade da Igreja de São Francisco, que usavam a cor verde e nos adereços da roupa tinham detalhes do piso da igreja, e os devotos da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, que usavam a cor azul, devido ao manto de Nossa Senhora, e nos adereços da roupa tinham detalhes do piso da igreja dedicada à santa.

Os passistas atravessaram o Sambão com muita ginga, interagindo com o público e com uma fantasia inspirada nas relíquias doadas para as irmandades, que eram uma forma de comprar a alforria de escravizados.

Histórias do santo negro faladas em terras capixabas

Da variedade de histórias que permeiam a história do santo negro, a Piedade escolheu algumas para contar na avenida, como o mouro guiado por anjos, em que benedito teria sido ajudado por anjos enquanto cozinhava no mosteiro, e o milagre das flores, consagrado pela igreja. Em uma saída do mosteiro, quando levava comida para os pobres, Benedito teria sido parado por seu superior e, ao ser questionado sobre o que levava em sua túnica, teria aberto os braços e a comida que havia ali se transformado em flores diversas.

Os santos negros São Benedito e Nossa Senhora Aparecida ganharam destaque com o segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, Wanderson Santtana e Katrielly Nascimento. As reverenciadas baianas da escola foram vestidas com inspiração na imagem de Nossa Senhora do Rosário, de quem São Benedito era devoto, como adereços, levavam o menino Jesus e um rosário. A integrante mais experiente, Dona Doquinha, com seus 75 anos, esbanjou vitalidade e alegria no desfile.

A igreja da santa inspirou a segunda alegoria da Piedade. Localizada no Centro de Vitória, é uma construção em estilo colonial, construída em pedra e cal com mão de obra de negros escravizados em 1765. Na alegoria, encontravam-se esculturas de Santa Ana, São Sebastião, São Gerônimo e São Lázaro. Na parte de trás, uma alusão ao local destinado aos leilões que vendiam relíquias para juntar dinheiro e conseguir comprar alforrias.

Peroás e Caramurus na cultura popular do Centro de Vitória

Uma das histórias mais famosas da capital capixaba, a disputa entre as irmandades de São Francisco, os caramurus, e Nossa Senhora do Rosário, os peroás, nos festejos de São Benedito ganhou contornos carnavalescos no Sambão do Povo.

Seres marinhos, peroás, caramurus, sereias e catraieiros tomaram a passarela do samba, que viu também a divisão feita no centro da Capital, durante a procissão a Bino Santo, marcando as rivalidades entre os dois grupos.

As bandas de congo que surgiram no Centro em meio aos festejos a São Benedito foram representada pela Banda de Congo Beatos de São Benedito, que é formada por competentes percussionistas e inclui em sua formação, pessoas com deficiência (Síndrome de Down, paralisia cerebral, microcefalia, autismo, entre outras), idosos e indivíduos em risco social, ratificando o lema estampado em sua indumentária: “A Cultura Popular como meio de Inclusão Social”.

Luta e resistência

Nos cantos da senzala, nos quilombos e, mais tarde, nos terreiros de candomblé e umbanda, os negros mantiveram vivas suas raízes ancestrais. Nesse setor, a Piedade mostrou o sincretismo religioso e a resistência para resguardar crenças e tradições dos escravizados, que muitas vezes foram ressignificadas para não se perderem.

O tripé “São Benedito é Catendê” marcou essa aproximação com os orixás. A escola levou para a avenida ainda a essência da cura, um tributo a Iansã, a presença de Ossain, o rei das matas, a pomba de Oxalá, a linha da umbanda, e os pretos velhos.

São Benedito abençoa a Fonte Grande

Espelho e identidade para a população negra, Bino Santo desde sempre encontrou morada entre a gente boa da Piedade e da Fonte Grande. No último setor, a escola festejou sua própria gente, agraciada com um milagre de São Benedito: uma fonte de água doce que sobrevive até hoje.

A velha guarda da escola passou com sua elegância tradicional, os protetores do pavilhão da Unidos da Piedade. O decano dos componentes é Nedir Cardoso, com 74 anos e muito amor pela agremiação mais querida do Carnaval de Vitória.

O casal mirim de mestre-sala e porta-bandeira, Luan Igor Costa e Yasmin Liz dos Reis representavam a geração do futuro da escola de samba.

As lavadeiras tiveram uma ala dedicada a elas, bem como a água que jorra da fonte abençoada pelo santo. A terceira alegoria da Piedade, “A Fonte Grande de São Benedito de Vitória” sintetizou o berço do samba capixaba, com suas ladeiras, seus bares e praças, terra fértil para a arte carnavalesca. Verdadeiros baluartes da escola estavam presentes ou representados no carro: Edson Papo Furado, Maria, Paulo, Francisca, Dona Zi, José Pirola, Nego e Pedro Pial, além dos dois mestres de bateria mais antigos ainda vivos, Edu e Tião.

Prefeitura de Vitória ES


Carnaval 2023: Piedade abre desfile e canta São Benedito e cultura popular

Foto Destacada na Matéria sobre “Prefeitura Municipal de Vitória”

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