Cesar MC: ex-estudante da educação de vitória é destaque no cenário musical

O rapper Cesar MC é um dos nomes em ascensão no cenário da música brasileira, e ex aluno da rede de ensino da capital. Para inspirar e celebrar o Dia do Estudante, comemorado hoje, 11 de agosto, convidamos Cesar MC para uma entrevista especial, com um papo sobre carreira e educação.

No último dia 03, na primeira edição do prêmio da Música Capixaba, o primeiro disco do artista, “Dai a Cesar o que é de Cesar”, que tem participações de nomes consagrados como Djonga e Emicida, conquistou o prêmio de melhor álbum do ano.

Entre seus quase um milhão de seguidores no Instagram e fãs que ajudaram a colocar “Poesia Acústica”, um de seus trabalhos coletivos e primeiro projeto autoral, no assunto mais comentado do Twitter no dia da estreia, muitos são estudantes da rede municipal de Vitória, para quem o rapper é uma inspiração.

Antes de se tornar o Cesar MC, o artista passou pelas salas de aula e estudou na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Neusa Nunes Gonçalves, em Nova Palestina, onde a mãe dele, Rosemere Resende, é professora de Língua Portuguesa. Na escola, Cesar viveu uma das experiências que se recorda com muito carinho e que o ajudou a desenvolver a arte que virou seu fazer na vida.

Confira a entrevista:

1- Cesar, você é o primeiro ganhador do Prêmio da Música Capixaba, com o álbum “Dai a Cesar o que é de Cesar”. O que isso representa para você?

É uma honra e uma alegria enorme poder participar de uma noite de celebração da música capixaba como um todo. Estava diante de grandes artistas, com trabalhos que ecoam por todo o mundo, então, poder nos juntar e celebrar é algo que fomenta muito a cultura. Ter esse reconhecimento local de algo que tem sido uma movimentação de muita luta, de muita garra na vida do artista, certamente é um olhar sensível que enche a gente de gratidão e estímulo. Foi uma noite incrível!

Esse reconhecimento do álbum “Dai a Cesar o que é de Cesar” é algo que motiva a gente, sabe. Foi fruto de muito corre, de muita vivência, a gente dedicou muito tempo, muito esforço a isso. Poder ter o olhar do Estado para essa movimentação que tem sido feita é algo que faz a gente celebrar.

2- Você já esteve na sala de aula, ex-estudante da Emef Neusa Nunes Gonçalves. O que a escola representa para você? Que diferença a Educação fez na sua vida?

A escola Neusa Nunes Gonçalves foi a primeira escola onde eu estudei, ali onde foram desenvolvidos meus primeiros estímulos de visão do mundo. A Educação está aí pra isso, pra nos ajudar a nos dar direção, a ter uma visão de mundo fundamentada, a crescer a se desenvolver através da cultura, das disciplinas, das ciências. O Neusa Nunes Gonçalves tem essa minha paixão desse primeiro lugar, os primeiros insights, de ter passado a primeira infância ali. Mas também esse lugar de importância que, hoje, a gente mais maduro consegue ver o quanto a educação é crucial pra que a gente se movimente com mais fundamentos, com mais visão e perspectiva. Vindo de periferia, podendo ter acesso ao ensino público, crescendo ali eu desenvolvi muita coisa. Então a educação é um ponto crucial e acredito que a maior medida de segurança pública que nós conhecemos é a educação.

3- Tem algo que marcou a sua história de estudante? Pode compartilhar?

Claro que a gente tem muitas vivências, é um tempo de muita nostalgia quando a gente olha pra nossa história de estudante e tenta tirar alguns momentos. Mas eu consigo lembrar de um momento peculiar quando dentro da escola eu tive a oportunidade de fazer um rap, de fazer uma música, antes da entrada na escola.

A diretora me deu o microfone, eu falei que eu tinha uma música e ela quis mostrar pros outros alunos e me estimulou a desenvolver um pouco dessa arte que eu tinha guardada pra mim. É curioso que hoje eu sou um cara que trabalho e vivo inteiramente pelo rap, pela minha música, e eu fico pensando que esse momento marcante da minha trajetória mostra o quanto a cultura presente na educação pode desenvolver dentro dos estudantes coisas tão grandiosas que às vezes a gente nem imagina.

Às vezes as pessoas não conseguem enxergar o quão urgente é a cultura envolvendo toda a educação, o quanto cultura é educação. Ter a minha história marcada dentro do ambiente escolar, ter sido estimulada a cultura, e esse estímulo hoje resultar no que resultou, me faz pensar no quão é importante ocupar esse espaço com mais cultura, com mais arte, porque isso tem efeito. A arte é uma linguagem que fala na vida do jovem num lugar íntimo, que às vezes outras linguagens não vão falar. O lugar da educação é um lugar de comunicação, de linguagens diferentes que vão tocar esse jovem, gerando perspectiva.

Eu me lembro dessa história com muito carinho, tive a oportunidade de cantar na minha escola e esse estímulo de botar pra fora um pouco da minha arte que estava ali.

4- Sua mãe, Rosemere, é professora de Língua Portuguesa na rede de Vitória. Como ela influenciou nas suas composições, no seu gosto pela escrita, pela rima?

Minha mãe é professora, sem dúvida nenhuma ela influenciou demais, demais na minha caminhada. Sem o exemplo dela, dentro da minha movimentação eu não chegaria onde cheguei e não faria com tanta garra e amor aquilo que hoje eu faço. Desde pequeno, ela me envolveu com muita literatura, muita poesia, com músicas que me fizeram desenvolver muito essa curiosidade pela poesia falada sobre as rimas e por ter algo a dizer em meio a melodia. Quando eu olho para o exemplo dela, não só daquele conteúdo que ela cuidou pra que eu tivesse acesso, mas também do exemplo dela como pessoa, de professora que acredita nos estudantes, que investe, que tenta fazer mais coisas fora da caixa, que tenta envolver o olhar dos estudantes em muitas perspectivas, que luta por eles, todo esse exemplo dela como pessoa, como caráter e também em relação ao estímulo à leitura fizeram com que eu tivesse um olhar mais sensível ao que hoje é a minha profissão. Então eu fico muito feliz com isso.

5- Hoje, você é referência para muitos jovens e estudantes das comunidades de Vitória e do Brasil, que conhecem e curtem seu trabalho. Como você se sente estando nesse lugar hoje? Qual mensagem deixa para essa galera que está nas salas de aula?

Esse reconhecimento dentro das comunidades, das escolas, dos estudantes, por todo o Estado, por todo o Brasil, ele é um lugar de gratidão, sem dúvida. Quando a gente está ali, no nosso cantinho, desenvolvendo a nossa arte, fazendo mil coisas, a gente não imagina onde ela pode chegar. Quando você vai pras ruas, pras comunidades, pras escolas e vê que isso de fato tocou, que influenciou e teve valor e significado na vida das pessoas não tem como ter outra palavra senão gratidão. Porém, também é um lugar de muita responsabilidade. Talvez, na mesma medida em que eu sou grato por todo esse reconhecimento, eu também sinto um certo temor, uma responsabilidade com aquilo que é falado, aquilo que é visto, a gente tem muito cuidado pra levar algo de positivo, que realmente edifique pra toda essa galera que acompanha.

A mensagem que eu tenho para deixar para todos eles que estão na sala de aula é para levantar a cabeça. Existem milhares de direções, existem milhares de sonhos, existem milhares de talentos, existem infinitas potencialidades a serem desenvolvidas dentro da sala de aula. Alguns vão se comunicar mais diretamente com as Ciências, outros vão pra Cultura, outros serão empreendedores.

Existem muitos caminhos. Mas dentro da nossa realidade que a gente vê, de Brasil, muitas vezes as perspectivas que a gente vê são limitadas, muitas vezes o local onde o jovem começa a sonhar é muito influenciado a abaixar a cabeça. As oportunidades desiguais fazem com que insistir um pouco mais pareça não valer a pena. Mas a arte e a cultura vêm ocupar um lugar para fazer com que esse estudante enxergue algo a mais, caminhe mais um pouco, ouse sonhar um pouco mais. Seja pela cultura, pela arte, pela ciência, pelo mundo acadêmico, seja pelo esporte, que eles levantem a cabeça. De alguma forma, eu acredito que a arte tem isso a dizer e muito mais.