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sábado, maio 18, 2024
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Enaltecendo a cultura das periferias, Pega no Samba levantou o Sambão do Povo – Notícias de Vitória-ES

“Tudo que nóis tem é nóis”. O verso que ganhou fama na composição de Emicida foi cantado a plenos pulmões no Sambão do Povo pelo Pega no Samba, terceira escola de samba a desfilar já na madrugada de sábado (11), no Grupo de Acesso A do Carnaval de Vitória.

A “azul, vermelho e branco da Consolação” levou à passarela do samba todo o orgulho de seu chão, da cultura de suas comunidades, São Benedito, Jaburu, Da Penha, Floresta, Itararé, Bonfim, Engenharia e Consolação, e a diversidade de sua gente, resgatando as raízes de sua história, desde o terreiro de Mãe Maria.

“Era só mais um cria”, desfile assinado pela carnavalesca Thais de Sá, passou batendo forte no peito dos foliões, misturando a cultura do samba com o rap e o funk. E se o samba é o Brasil que deu certo, o morro, quando desce, é carnaval! Em sua estreia assinando sozinha um desfile no Carnaval de Vitória, a carnavalesca prometeu um desfile avassalador e cumpriu!

“A gente vem com tudo, é o Pega! Muito trabalho, muita emoção, é um sonho que todo mundo sonhou junto e vem realizar junto. Chegamos chegando, isso é a nossa escola, a nossa comunidade”, afirmou Thais. E, como dizia o enredo da escola: “quando o Pega passa, eu não suporto. Transformamos tudo que sofremos em BPM… batida por minuto, nisso tudo aqui que você ouve hoje e hoje toco para o mundo inteiro ouvir”.

Em contraste com a estreia da carnavalesca, o senhor Edson Amancio, 69 anos, hoje integrante da velha guarda, está no Pega desde 1966, quando ainda era a batucada do Amigos de Gurigica. Ele não escondeu o orgulho de sua história. “Somos uma família e amor vem da família. É o nosso reduto, e o nosso lugar, o samba era e é a nossa vida. Eu me sinto muito honrado de estar aqui, é uma terapia”, afirmou.

Batida do Lé

Ícone das comunidades, o tamborzão foi o elemento cenográfico escolhido pelo coreógrafo Jadson Titanium para compor a comissão de frente do Pega, que levou os orixás para um baile funk. O “cria”, personagem principal do enredo, apresentou a escola acompanhado de Iemanjá, Iansã, Oxum, Yewá, Nanã, Obá, Ogum, Oxumaré, Exu, Oxalá, Oxossi, Xangô e Omolu . Na marcação do “tá tum dá”, teve riscado, passinho, bailado, e até discurso ritmado.

Para dar segmento ao cortejo do Pega, a primeira ala “Memória de terreiro – iniciação”, remetia a um ritual de Iaôs, destacando a relação intrínseca da cultura e das religiões afro-brasileiras com o carnaval. As baianas da escola vieram como “Mães da favela”, territórios onde a maior parte das famílias é chefiada e cuidada por mulheres. As baianas ressaltaram as mulheres como as protetoras dos quilombos, dos terreiros, do samba, e das crias.

A primeira alegoria da escola, “Favela: a cultura da ginga”, trazida pela borboleta e pelo búfalo de Iansã, representados pelas destaques Francielle Santos e Bárbara Ribeiro, era uma verdadeira ode às favelas e periferias do Brasil, reforçando a mensagem da riqueza cultural nascida em becos e vielas, capazes de produzir o maior espetáculo da terra, que é o carnaval das escolas de samba.

Personagens como a criança que corre atrás de pipa, jogador de futebol, lavadeira, rainha de bateria, aderecista, barbeiro, mecânico, tiktoker estavam na composição alegórica, que trazia ainda uma casa de benzedeira, um boteco e fazia referência ao sol na laje.

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Max Dutra e Kamilly Silva, homenageava “o povo da rua encantada”. Ele representando Zé Pilintra, irreverente, debochado, cheio de jogo de cintura. Ela, de Maria Navalha ou talvez de Maria Tomba-Homem, personagem histórica da capital capixaba e eternizada pelo Pega em seu samba enredo “Tipos populares de Vitória”, de 1986.

150 BPM

Na batida acelerada do tambor, o segundo setor da escola trouxe os corres do cotidiano, a vida e as histórias de quem mora nas periferias. “O asfalto, a mesmice, a ordem e os olhares” lembrou o ato dos motoristas travarem as portas dos veículos ao perceberem a aproximação de uma pessoa negra, marcando a separação do asfalto e da favela. “Teatralizada, no contra-ataque da guerra, arte!”, a ala exaltava a pulsação criativa, alegre e cheia de ritmo de quem se reinventa, todos os dias, nas comunidades, criando ritmos, grafite, passinhos, rimas e muito mais.

Especialistas em riscar o chão da passarela do samba, os passistas do Pega representaram o baile de favela! Com muita malemolência e gingado, com direito a passinhos na avenida, eles abriram passagem para a Locomotiva! A bateria do Pega, com a fantasia “BPM – Batida por Minuto: ritmo”.

À frente dos ritmistas, a rainha Eduarda Lima trajava a fantasia “BPM – Batida por minuto: coração”. Já a madrinha Rana Loureiro vestia “BPM – Batida por minuto: Tempo”. Comandados pelos mestres Alcino Junior e Jorge Borges, a marcação forte da Locomotiva empolgou os foliões em todos os setores da avenida.

A segunda alegoria, “Batida da noite X Batida do dia”, enaltecia os bailes e as inovações rítmicas criadas dentro das comunidades, mas falando também do dia a dia, do batente, do ganha pão, e as vozes de lideranças que surgem para “botar a boca no mundo” pelo bem das favelas.

“Nóis” é Brasil real

O país dos privilégios, ou o país oficial, como escreveu Machado de Assis, se choca com a genialidade do país real, o das ruas e das comunidades, produtor de cultura, berço da criatividade. Abrindo o setor, “A feira – os donos da rua, do trabalho ao ensaio geral” vinha trazendo um pouco da alma encantadora das ruas, que fervilham de gente, de histórias, de sons e de vidas. “O corre – é a necessidade, o jeito de usar toda a criatividade” misturava os entregadores de aplicativos e os tradicionais vendedores de algodão doce.

Em “Construção – nós que construímos esse país”, a escola lembrou que não há obra feita no Brasil oficial sem que o Brasil real esteja presente. “Ateliê de Ideias – economia criativa das periferias” exaltava as iniciativas de gestão e de negócios surgidas dentro dos territórios periféricos, como o Banco do Bem. “Estilo exportar – o Brazil não conhece o Brasil” reforçava a ideia de que os maiores símbolos do país conhecidos mundo afora têm raízes periféricas.

Quando o morro desce, é carnaval!

Para não deixar dúvidas: o carnaval é cultura das periferias. Os desfiles das escolas de samba só existem porque existem as comunidades e todo o trabalho feito por milhares de mãos, nos mais diversos setores, ao longo do ano. E o quarto setor da escola enalteceu todo esse trabalho que existe em torno do carnaval em uma comunidade. Na ala “Saudade – reverência aos antigos carnavais”, os foliões portavam um pequeno estandarte com a imagem de Maria Tomba Homem.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira mirim, Erick de Jesus e Kemelly Eduarda lembravam que o samba sempre renasce e que o pavilhão da escola estará sempre muito bem reverenciado na avenida.

A vestimenta da velha guarda do Pega afirmava “A Favela venceu”, lembrando que a periferia vence quando vive o suficiente para se tornar guardião ou guardiã do samba, de sua própria cultura.

Em mais uma ode a si e a sua própria história, o segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus Moraes e Juliana Souza estavam vestidos com as cores do pavilhão que defenderam na avenida, com fantasias cheias de referências a Ogum, que no sincretismo religioso remete a São Jorge, que seria o santo protetor das escolas de samba.

Com os maquinistas Andreina Pereira e Jordana Martins à frente, a última alegoria da escola “O morro no Sambão dos crias” homenageou mestre João Bernardes, histórico mestre de bateria à frente da Locomotiva, que esteve presente como destaque principal do carro.

Em seu desfile de tantos crias, a escola encerrou seu desfile com a ala da comunidade trajada de garis, seguidos pelo “Amigos do Pega”.

Prefeitura de Vitória ES


Enaltecendo a cultura das periferias, Pega no Samba levantou o Sambão do Povo

Foto Destacada na Matéria sobre “Prefeitura Municipal de Vitória”

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