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sexta-feira, maio 17, 2024
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Madalena do Jucu ganhou a avenida com a São Torquato – Notícias de Vitória-ES

Eternizada na composição de Martinho da Vila, “Madalena do Jucu”, inspirada numa toada de Congo, a personagem mais famosa das congadas capixabas chegou ao Sambão do Povo como tema da Independentes de São Torquato, escola de samba de Vila Velha, que cantou “Madalena – muito mais que um bem querer”, enredo criado pelos carnavalescos Edmilson Galdino e Marcelo Braga.

O que se viu na avenida foi uma exaltação da cultura do Espírito Santo, cuja população, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é formada, em sua maioria, por mulheres. A força da tradição do Congo permeou todo o desfile, costurando a história dessa manifestação cultural à de Madalena, ou das várias Madalenas que nasceram inspiradas na toada ao som do tambor e da casaca.

A bateria da águia de Vila Velha veio com um naipe de casacas tocadas por mulheres. Na apresentação em frente às cabines dos julgadores, elas formavam uma roda de Congo, interagindo com a rainha de bateria, Keyciane Rodnitzky, que também desfilou com uma casaca, instrumento característico das congadas capixabas.

Ritmista da agremiação há mais de uma década, Luiz Zago, 65 anos, estava emocionado antes mesmo de entrar na avenida. “Faltam palavras, não sei definir como é estar aqui. Misturar samba e congo, nossa… é muito importante valorizar a nossa cultura, a nossa história”, disse ele, que é integrante do naipe de caixas.

As Madalenas da São Torquato eram as mulheres e as ancestrais femininas e também jovens que cantam e dançam congo, são compositoras, cantoras de samba, cantoras de rap, funk, pop, dançarinas, escritoras, intelectuais negras, guardiãs da cultura.

E entre as tantas “madás” da escola, dona Maria Alves, 78 anos, passou rodopiando com a ala de baianas. “O carnaval é tudo na minha vida, eu me encontrei aqui, sinto um prazer imenso de estar com a escola, é uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida. A fantasia pesa sim, mas a gente faz com muito amor e fica leve”, destacou.

Essa é minha raiz

Madalena e o canto das lavadeiras formavam a comissão de frente, trabalho do coreógrafo Davi Monteiro, uma referência ao disco no qual Martinho da Vila gravou “Madalena do Jucu”, chamado “O Canto das Lavadeiras”, iniciando a história da personagem e apresentando a escola com uma pegada forte na religiosidade, que é característica das populações ribeirinhas.

Uma das histórias contadas sobre a Madalena do Congo é de que ela teria nascido e crescido às margens do rio Jucu.

Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da escola, Yuri Souza e Eliana Fidellys Adão representavam São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. O santo negro é um dos mais homenageados pelas congadas capixabas. Ele teria sido responsável por salvar negros escravizados do naufrágio de um navio na costa capixaba.

Já Nossa Senhora do Rosário seria o motivo da existência dos congueiros, devotos da santa que teria sido responsável pela libertação dos negros do sistema escravocrata.

Tudo começa aqui

A ala das baianas, trajando “O rio que encontra o mar”, fazia menção ao rio Jucu e sua foz, na Barra. A ala “O que me leva até você” representava ludicamente os diversos trajetos que as pessoas podem percorrer para chegar ao balneário.

O abre-alas da escola homenageava o lugar que é considerado o berço de Madalena, e que surgiu como uma vila de pescadores. A principal escultura do carro representava a igreja de Nossa Senhora da Glória, com mais de 120 anos, construída na região.

Os povos originários que habitavam o território também se fizeram presentes com as alas “Goitacás” e “Tupiniquins”, seguidos por “Força ancestral – Bantos de Angola”, fazendo menção à chegada dos negros. O encontro de indígenas, negros e portugueses apareceu em “Na cor da pele a miscigenação”.

A escola também destacou a Reserva Natural de Jacaranema em seu desfile. A ala de passistas vestia uma fantasia inspirada na fauna e na flora da região, com os destaques Ana Luiza e Wallace Tchunay representando a garça e a cobra.

A bateria da águia de Vila Velha levou para a avenida um casal real. Keyciane Rodnitzky, a rainha, representava a casaca, enquanto o rei Marx Brandão era o tambor. Os ritmistas, comandados pelos mestres Genivaldo Monteiro e Renato Costa, puderam brincar ao longo da passarela do samba com a fantasia de congueiros. E se o desfile era uma homenagem às Madalenas, referências ao congo não faltaram nas bossas e paradinhas muito bem executadas no Sambão do Povo. Deu muita liga a mistura de congo com samba!

Olha minha “Vila” hoje

A fé e a devoção deram o tom desse setor da escola. A segunda alegoria, “Festa de São Benedito”, levou para o Sambão do Povo a secular fincada do mastro, em homenagem aos sobreviventes do naufrágio do navio Palermo, que se salvaram de morrer afogados por terem permanecido junto ao mastro da embarcação. No carro, a velha guarda da escola estava vestida de “Os doadores de memórias”, pois são os membros mais antigos das escolas de samba que contam as mais diversas histórias que já inspiraram sambas e batucadas.

As tradições da Barra do Jucu estavam representadas no segundo casal de mestre- sala e porta-bandeira, Luan Igor e Yasmin Liz, se estendendo pelas alas “As rendeiras de bilro”, “Os movimentos musicais”, “No poder da escrita a educação”, e “Com sabor de quero mais – A gastronomia”.

Eu vejo um novo futuro

Se antigamente apenas homens podiam tocar nas bandas de congo, hoje as mulheres já batem os tambores, tiram som das casacas e até mesmo comandam uma congada. E não apenas no congo, na vida, as Madalenas ecoam a toada em um ritmo cada vez mais forte, fazendo história, construindo novas identidades e deixando sua marca para as gerações que ainda vão vir.

A força das mulheres, a luta por direitos e contra o racismo desfilaram pelo Sambão do Povo remetendo à política, aos movimentos culturais, à reinvindicação pela equidade e pelo respeito a todas as mulheres.

Tradicional em antigos carnavais, a Independentes de São Torquato resgatou a figura da porta-estandarte, representada por Maria Clara, figura que também faz parte das bandas de congo. Ela entrou à frente da ala “Nossa festa é todo ano – bandas de congo capixabas”, que trazia integrantes originais de bandas de congo capixaba.

A terceira alegoria, “Eu sou Madalena”, reunia uma nova geração da personagem cantada no enredo: professoras, articuladoras políticas, cantoras, empresárias e tudo o mais que elas quiserem ser.

A escola encerrou seu desfile com o tripé “Com orgulho somos São Torquato” e espera fazer a festa na apuração, conquistando a tão desejada vaga para o Grupo Especial em 2024.

Prefeitura de Vitória ES


Madalena do Jucu ganhou a avenida com a São Torquato

Foto Destacada na Matéria sobre “Prefeitura Municipal de Vitória”

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