Após 36 anos de saudades, incertezas e, principalmente, esperança, um reencontro tão aguardado entre mãe e filha finalmente aconteceu. A longa separação entre Alvina Maria de Jesus, 77 anos, e sua filha Maria Ferreira, 59, teve fim nesta quinta-feira (31), graças ao empenho da assistente social Ana Andreia Barcelos Serafim, que trabalha na unidade de saúde de Andorinhas, em Vitória.
Andreia conta que conheceu Alvina no início dos anos 2000, quando a Prefeitura de Vitória estava reassentando moradores que viviam em casas de risco ou palafitas para conjuntos habitacionais. “Eu a acompanhei quando ela herdou o direito à casa do filho que faleceu. Acompanhei sua rotina de trabalho ajudando a cuidar dos filhos de pessoas da comunidade ou vendendo chup chup e a orientei a buscar um benefício social quando ela completou 65 anos. Mas como sabia que ela poderia precisar de ajuda com o passar dos anos, tentei encontrar a família dela. Infelizmente, naquela época, não consegui encontrá-los. Quando meu contrato com a Prefeitura de Vitória terminou, fiquei com o sentimento de que não havia concluído totalmente meu trabalho na vida da dona Alvina”, disse.
Felizmente, Andreia teria uma nova oportunidade de concluir sua missão. Algum tempo depois, a assistente social a voltou a trabalhar na Prefeitura, agora na unidade de saúde de Andorinhas. Dentre atendimentos individuais e em grupos, Ana Andreia é responsável por ações educativas com um grupo de mulheres que, ao realizar uma visita ao Asilo dos Idosos de Vitória em julho deste ano, reencontrou dona Alvina entre os moradores da Instituição.
“Eu tomei um susto ao vê-la ali. Quando nos falamos ela me reconheceu e contou que havia sofrido um acidente em casa e precisou ser levada para um hospital. Como não tinha família e não poderia voltar a morar sozinha, ela foi acolhida pelo Asilo dos Idosos de Vitória”, lembrou Andreia.
Nesse dia, a Agente de Combate às Endemias, Regina Celia Souza também estava na visita à Instituição e se emocionou ao reconhecer dona Alvina. “Eu a conheci em 2007 quando trabalhava na região em que ela morava. Depois mudei de área e só ouvia falar dela por meio dos colegas. Soube que ela passou mal em casa, mas não sabíamos que ela estava ali morando no Asilo dos Idosos”, relatou.
Após esse reencontro, as servidoras combinaram com a senhora que procurariam por sua filha.
Cartão de vacina
Andreia tentou encontrar Maria Ferreira por vários sistemas: pelo CadÚnico, pelo Cartão SUS, mas sem sucesso. Foi então que ouvindo um colega elogiando o quão completo estavam os cadastros dos cartões de vacina contra Covid-19 que decidiu pesquisar no sistema de imunização nacional.
Sua colega da sala de vacina da unidade, a auxiliar de enfermagem Fabíola Nascimento Martins cruzou os nomes de mãe e filha e encontrou três pessoas com os mesmos dados. Porém, apenas uma tinha idade para ser filha de dona Alvina e ela morava no Estado de São Paulo.
“Após confirmarmos algumas informações com os serviços de Saúde e Assistência Social da região de São Paulo, os profissionais de lá passaram meu contato para dona Maria Ferreira. E desde então temos nos falado para combinar esse reencontro que finalmente aconteceu”, contou Andreia.
O desencontro
Até esta quinta-feira, 31 de agosto, Maria Ferreira conta que a última vez que viu sua mãe foi em 1987, na cidade de Poções, na Bahia. Maria havia se mudado para São José dos Campos, em São Paulo, e em uma das visitas que fez à mãe, descobriu que seu irmão Valdir havia se mudado com ela para o Espírito Santo.
“Fiquei tão triste na época. Pedi que o filho da vizinha da minha mãe levasse meu endereço e telefone até meu irmão, uma vez que ele viajava até o Espírito Santo a trabalho também. Mas nunca mais tive notícias dos dois”.
Ao longo desses 36 anos, Maria Ferreira sentiu muita falta da mãe e chegou a procurar ajuda em um programa nacional de televisão.
“Eu lembrava dela todos os dias, especialmente no Dia das Mães. Meu coração sofria muito de saudades. Foi muito tempo que passamos longe uma da outra. Quando cuidava de pessoas idosas, lembrava dela e me preocupava se ela também precisava de cuidados”, conta emocionada.
O reencontro
Assim que Maria Ferreira desembarcou na Rodoviária de Vitória ela se dirigiu ao Asilo dos Idosos de Vitória. O reencontro emocionante trouxe muitas lembranças e lágrimas de felicidade. Mãe e filha também puderam contar um pouco do que lhes aconteceu nas últimas décadas enquanto viveram sem notícias uma da outra.
Dona Alvina pôde ver as fotos dos netos crescidos e, pela primeira vez, imagens dos seus bisnetos.
Maria Ferreira lembra da emoção ao ouvir dos profissionais da Assistência Social do município onde mora notícias sobre sua mãe.
“Eu estava trabalhando quando me ligaram e foi difícil segurar a emoção. Eu já havia pedido ajuda até da TV para encontrar minha mãe. Depois de tantos anos… Fui pra casa chorando, contei para meus filhos que ficaram muito felizes por mim. Eles sabem a dor que eu sentia. E Deus preparou tudo na hora certa”
Maria conta que durante toda a viagem até Vitória, pediu muito que Deus a preparasse para o momento tão esperado. “Quando vi minha mãe, achei que meu coração ia sair pela boca. Mas Deus me deu forças, e a ela também. Graças a Deus nossos caminhos se encontraram novamente e agora não saio mais de perto da minha mãe”.
Mãe e filha têm reencontro emocionante após 36 anos sem se verem