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Mulheres na ciência: longo caminho até a igualdade – Notícias da ALES

“Desde pequena já havia um certo encanto. Eu sempre gostei muito de ler e pesquisar sobre assuntos que envolvessem áreas da ciência.” O relato é de Bruna Pereira Capeleti, 20 anos. Atualmente ela está no último ano da graduação em enfermagem.

Bruna lembra com carinho do ensino médio, período no qual passou a ter biologia na grade de disciplinas e parou para pensar na carreira que gostaria de ter. “A partir dali o interesse foi crescendo, e eu percebi que era dentro da ciência que eu queria estar.”

Uma figura importante nessa fase foi a professora Camila Reis, que desenvolveu ao longo do seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) uma experiência de popularização da ciência em escolas. Com o projeto ela não só conquistou o IV Prêmio Educação em Ciências – promovido pela Comissão de Ensino da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (FesBE), com o apoio do Instituto Questão de Ciência (IQC) -, como também marcou a vida de Bruna.

“O projeto foi muito bom, principalmente para mim, que já me enxergava dentro da ciência. Foi um grande incentivo a seguir o que eu queria”, lembra a estudante de enfermagem.

Camila conta que a maioria dos seus alunos são de classes economicamente desfavorecidas e que nunca tiveram um contato direto com a universidade ou familiaridade com pesquisas que são desenvolvidas nos prédios acadêmicos.

“Fizemos uma visita ao laboratório onde desenvolvi minha pesquisa. Lá, eles conheceram todo o espaço físico e tiveram a oportunidade de dialogar com outros estudantes de doutorado e mestrado. Ouviram os percalços narrados pelos pesquisadores durante a execução de seus trabalhos científicos, como, por exemplo, as inúmeras vezes que precisávamos repetir experimentos”, conta.

Camila sente que a ida à universidade foi importante porque ajudou na desconstrução da imagem do cientista como uma figura “caricata”, “nerd” e “inacessível”, mostrando que a ciência é um produto da construção humana, passível de erros e ajustes. “Muitos ficaram deslumbrados com o fato de usar um jaleco pela primeira vez e se sentiram verdadeiros cientistas. Foi um momento rico e de muitos aprendizados”, conclui a professora. 


Participação feminina

Na Ufes, onde Camila fez seu doutorado, 45,8% dos docentes efetivos – aqueles aprovados em concurso público – são mulheres. Nos programas de pós-graduação, o número sobe para 50,4%. Além disso, elas já são 48,3% dos doutorandos, 52,3% dos alunos de mestrado acadêmico e 47,3% dos discentes de mestrado profissional na universidade.

No Brasil, as mulheres são maioria nas áreas de Bioquímica (52,7%), Odontologia (52,4%), Imunologia e Microbiologia (57,7%), Medicina (52,7%), Neurociência (54,3%), Enfermagem (73%) e Farmacologia (57,6%). Os dados são do relatório da Elsevier, de 2020, intitulado “A jornada do pesquisador através de lentes de gênero” (documento em inglês).


O documento dá conta ainda de que, de 2009 a 2013, as cientistas brasileiras publicaram até dez vezes mais o primeiro artigo de suas carreiras do que em anos anteriores. O maior aumento na proporção de mulheres entre os autores foi visto na enfermagem e na psicologia. O menor aumento foi na área de ciências físicas.

Aline Gonçalves dos Santos é uma das capixabas que conseguiu furar a bolha masculina na área de exatas. Ela é engenheira eletricista e dona de uma empresa que transforma carros convencionais, com motor a combustão, em elétricos. “Quando conheci o carro elétrico e percebi todos os benefícios ambientais, de liberdade, independência e até mesmo na saúde, me deparei com um novo desafio: Carro elétrico está muito caro, é possível desenvolver um veículo com menor custo? A partir daí iniciamos a pesquisar as tecnologias envolvidas e as possibilidades de desenvolver o próprio carro elétrico”, conta Aline.

Ela relata que percebe na prática que poucas mulheres atuam na área de exatas em comparação a outras como a saúde e humanas. Apesar disso, a engenheira afirma que nunca sofreu preconceito.

Aline considera, ainda, que um dos motivos que ampliam a distância entre o aluno e as disciplinas da sua área de atuação é o fato de que
há “escolas de ensino fundamental e médio que ainda trabalham com as disciplinas de exatas somente na teoria”. A engenheira pontua, entretanto, que hoje muitas escolas já aproximam os alunos com as práticas das disciplinas exatas, como área de robótica, elétrica e física aplicada:

“Com isso, o envolvimento cada vez maior entre o aluno e a prática da disciplina, faz com que os horizontes do aluno se ampliem e, assim, ele possa sonhar, resolver desafios, criar e imaginar. E isso tende a aproximá-lo das ciências exatas”.


No Brasil, de acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), as mulheres constituem 43,7% das pesquisadoras, apesar de a proporção relativa diminuir com o aumento da faixa etária: 45,9% a 41,5% no grupo de 35 a 54 anos e ao redor de 30% entre 55 e 64 anos. Segundo essa projeção, o número de mulheres vai superar o de homens até o final da década.

Barreiras

Camila, cujo interesse pela ciência foi despertado no ensino médio com “aulas instigantes de um professor de biologia”, conta que nunca sentiu preconceito por ser mulher:

“Desde o meu ingresso na universidade, principalmente durante o estágio de doutoramento, em que estive mais imersa no campo científico, nunca fui subestimada por ser mulher. Ao contrário, tive o privilégio de construir parcerias com colegas de laboratório que me incentivaram durante o percurso e que se tornaram amigos”, conta a professora.

Já a estudante Bruna sente que, apesar de a participação feminina na ciência ter crescido significativamente, ainda há muitas barreiras para serem quebradas:

“Creio que precisa haver um incentivo, que por vezes não chega, e por vezes você não ouve. Quando eu resolvi, de fato, estar nessa área, por vezes ouvi que deveria estar fazendo outra coisa”. Em razão dessa experiência, Bruna sonha em “mostrar que é possível e que nós mulheres temos capacidade para estar ali e desenvolver coisas incríveis.”

Apesar de a participação feminina na ciência ter crescido nos últimos anos, mulheres ainda enfrentam desafios para ter espaço em áreas como ciências exatas

Mulheres na ciência: longo caminho até a igualdade

Fonte: Assembleia Legislativa do ES.
Para mais informações sobre a Assembleia Legislativa do ES acesse o site da ALES

Mulheres na ciência: longo caminho até a igualdade

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