Que a volta às aulas vem carregada de sentimentos contraditórios é inegável.
Agora, imagina para pessoas como Nilceia Maria Carneiro, de 49 anos, e Ricardo da Conceição Pereira, de 30 anos, que depois de anos sem frequentar uma escola de ensino regular retornam, como alunos do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes).
Só isso já seria suficiente para serem tomados pela ansiedade pelos momentos desafiadores que vão viver, mas eles ainda carregam juntos histórias de dias vivendo em situação de rua.
Atualmente, Nilceia está na Casa Lar 1 e, Ricardo, na Casa República, de onde sairão diariamente para as aulas no Ifes. Mas tanto Nilceia quanto Ricardo afirmam que a felicidade está predominando entre os sentimentos.
“Estou me sentindo muito bem. Estou muito feliz. Muito grata por poder começar a estudar no Ifes no curso que escolhi (Segurança do Trabalho)”, afirmou Nilceia.
Se para algumas pessoas a idade cronológica poderia ser motivo para desanimar, para Nilceia esse fato desaparece diante do sonho de se tornar desembargadora. Isso mesmo. Ela quer ser uma juíza responsável por um Tribunal de Justiça ou por um Tribunal de Apelação.
“Meu sonho é terminar minha história sendo desembargadora. Quero frequentar e passar em todas as disciplinas do curso. Espero trabalhar com a justiça. Desde sempre, meu conhecimento e meus pensamentos sempre me levaram para esse lado”, comentou Nilceia.
Metalurgia no Ifes
A matrícula no curso de Metalurgia no Ifes também enche Ricardo da Conceição de esperança e sonhos com um futuro diferente. Ele revelou que já fazia cinco anos sem estudar até passar pela turma da Educação de Jovens e Adultos (EJA), mas apoio da equipe da Casa República concluiu as etapas que o capacitaram para ingressar no instituto.
Ricardo disse que, na “mochila”, vai a ansiedade do início dessa nova etapa da vida e seus sonhos. “Quero concluir o curso que eu escolhi. Quero trabalhar na área. Ter casa, emprego. Ter uma profissão. Usar todo o conhecimento”, falou Ricardo com uma voz carregada de positividade.
Espaços de acolhimento
Nessa volta às aulas, os espaços de acolhimento da Assistência Social de Vitória contabilizam e celebram o ingresso de cinco alunos no Ifes. Além dos 12 que estão frequentando as aulas no polo da EJA no Acolhimento Institucional para adultos e famílias em situação de rua, Abrigo 1.
No Centro de Referência para População de Rua (Centro Pop) 17 alunos vão frequentar o EJA; no 1º segmento (1ª a 4ª série) serão 7 alunos; e 2º segmento (5º ao 9º ano), outros 10. E mais três acolhidos do Centro Pop foram para o Ifes, que se juntam ao grupo de outros oito que já estudam na instituição (totalizando, 11 alunos matriculados ).
A gerente de Proteção Especial de Alta Complexidade, Anacyrema Silva, destacou que esses números são resultados do esforço de toda uma equipe multidisciplinar, de trabalhadores focados e de uma política voltada para a redução das vulnerabilidades.
“Trabalhamos também para conscientizar nossos acolhidos e família que estudar representa, um ascender, permitindo uma colocação no mercado de trabalho e a porta para novas possibilidades”, comentou Anacyrema.
A secretária de Assistência Social, Cintya Schulz, disse que as histórias relatadas mostram o quanto as políticas de Assistência Social, Cidadania e Educação podem fazer a diferença na vida de pessoas em situação de rua. “A Assistência Social enquanto política pública, transforma vidas”, enfatizou.
Volta às aulas: Acolhidos do Abrigo 1 e do Centro Pop vivem a emoção do recomeço