Um cartão postal capixaba. Não há como pensar no Espírito Santo sem se lembrar da imponência da Terceira Ponte, que atravessa a Baía de Vitória conectando a capital do estado à Vila Velha.
E, para além de um símbolo da arquitetura e da paisagem capixabas, a Ponte Deputado Darcy Castello de Mendonça – nome oficial da via – é fundamental para a mobilidade urbana na região metropolitana.
Nesta semana, a Terceira Ponte completou 34 anos. Inaugurada em 23 de agosto de 1989, os estudos iniciais para a construção de uma nova ligação entre Vitória e Vila Velha remontam à década de 1960.
Mas foi em 1973 que o então governador Artur Gerhardt Santos começou o projeto. Porém, as obras foram iniciadas, de fato, em 1978, no governo Elcio Alvares. Em 1980, elas foram paralisadas por falta de recursos e só foram retomadas quatro anos depois pelo governador Eurico Resende.
Os governadores Gerson Camata e José Moraes deram continuidade ao projeto e a Terceira Ponte foi entregue à população capixaba na gestão Max Mauro (confira ao final galeria com fotos da época).
Até esse momento, o cidadão que precisava atravessar de um município para o outro tinha duas opções: a ponte Florentino Avidos (“Cinco Pontes”) – primeira ligação entre a Ilha de Vitória e o continente – e a Segunda Ponte. As duas ligam a região da Ilha do Príncipe, em Vitória, à região de São Torquato, em Vila Velha.
A construção da Terceira Ponte afetou, inclusive, na migração dos eixos residencial, comercial e empresarial dos municípios, com uma maior ocupação das regiões que englobam os bairros Enseada do Suá, na capital, e Praia da Costa, no município vizinho.
Números
Com 3,3 quilômetros de extensão, a Terceira Ponte recebe, hoje, em média, 41 mil veículos por dia nos dois sentidos. É a 5ª maior ponte em extensão do Brasil. Já seus 70 metros de altura proporcionam o 2º lugar no ranking das pontes mais altas do país.
E, agora, uma nova etapa começa, com a ampliação de suas faixas para veículos – de duas para três em cada sentido – e com a inauguração da Ciclovia da Vida (ciclovia “Detinha Son”), estrutura metálica exclusiva para bicicletas.
De acordo com as informações divulgadas pelo governo do Estado, a inclusão das duas novas faixas, uma de cada lado da via, proporcionará o incremento de cerca de 40 por cento em sua capacidade de tráfego. As novas faixas serão preferenciais para ônibus, veículos de serviço e motocicletas.
Já a ciclovia permitirá a travessia de bicicletas, o que não era possível anteriormente, com exceção do serviço Bike GV, linha de ônibus do sistema Transcol que faz o transporte dos ciclistas e de suas bicicletas de Vila Velha para Vitória e vice-versa.
Proteção à vida
Além de possibilitar o uso das bicicletas, a ciclovia tem uma função primordial: a proteção à vida. Uma realidade intrinsecamente ligada à história da Terceira Ponte, infelizmente, é a sua utilização para tentativas de suicídio.
Dados recentes divulgados pela Rodosol, concessionária que administra a via, mostram que, desde 2020, foram 339 tentativas e 28 suicídios.
Com a instalação da grade antiescalada com três metros de altura, o número de tentativas diminuiu. De janeiro a julho de 2023, foram 31 registros, menos da metade que no mesmo período de 2022, quando ocorreram 63 tentativas.
E, felizmente, o número de suicídios concretizados zerou desde outubro, quando a instalação das grades de proteção em toda a extensão da nova ciclovia foi finalizada.
A Terceira Ponte e a Ales
Quem olha pelas janelas da Assembleia Legislativa (Ales) tem a Terceira Ponte como um destaque da paisagem. Mas quem olha para dentro da Casa de Leis, também pode notar que ela é tópico de debates, discursos, proposições e já foi motivo, inclusive, de ocupação do prédio por manifestantes.
Há pouco mais de 10 anos, na efervescência do movimento que eclodiu, no país, em junho de 2013, um tema de grande impacto no dia a dia dos moradores da Grande Vitória também ganhou destaque: a cobrança de pedágio na Terceira Ponte.
Na época, o então deputado Euclério Sampaio, hoje prefeito de Cariacica, havia apresentado, junto com outros parlamentares, um projeto para suspender a cobrança de pedágio na via.
Na votação da matéria no dia 2 de julho de 2013, as galerias do Plenário ficaram lotadas de pessoas que reivindicavam a sua aprovação. A Comissão de Justiça pediu prazo para análise da proposta e os manifestantes acabaram ocupando a Assembleia por 11 dias. Em 15 de julho, o Plenário decidiu pela inconstitucionalidade e a proposição foi arquivada.
O contrato de concessão do governo do Estado com a Rodosol também já foi alvo de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) na Casa.
Grades de proteção
A necessidade de instalação de grades para evitar suicídios na Terceira Ponte foi pauta de projetos e pronunciamentos ao longo dos anos. Euclério Sampaio foi incansável na luta pela instalação dessas grades de proteção, apresentando e reapresentando iniciativas nesse sentido. Outros parlamentares também apresentaram propostas com esse teor, como Brice Bragato, Jardel dos Idosos, Luzia Toledo, Marcelo Santos e Sandro Locutor.
Em 2014, Euclério apresentou o Projeto de Lei (PL) 35/2014, mas a proposta foi arquivada por decisão do Plenário, que votou pela inconstitucionalidade da matéria por vício de iniciativa.
Na ocasião, Euclério questionou: “O que vale mais no Espírito Santo: a vida ou um contrato?”, indagou. “Vidas são ceifadas todos os dias. Quando uma pessoa se joga lá de cima é por omissão do Estado. Uma vida tem de estar em primeiro lugar”.
Ele reapresentou o projeto em 2016. Após tramitar em regime de urgência, o projeto foi arquivado em placar apertado (9 votos a 8). Em 2017, ele voltou a apresentar a iniciativa, que só foi aprovada pelo Plenário após dois anos de discussão. A lei foi promulgada em maio de 2019.
Propostas para a ponte
Nesse período, a Comissão de Infraestrutura da Ales também foi protagonista nos debates sobre a reestruturação da ponte e a instalação das grades. O grupo ouviu gestores, engenheiros e arquitetos sobre as possibilidades que poderiam ser implantadas.
Em reunião do colegiado em 2017, o então secretário de Transportes e Obras Públicas, Paulo Ruy Carnelli, já havia mencionado a possibilidade de aumentar o número de faixas da via: “Tecnicamente nós conseguimos colocar três faixas”, disse à época.
No mesmo ano, a comissão ouviu o engenheiro civil Luiz Carlos Menezes, que defendeu essa alternativa de implantar uma nova faixa em cada sentido. O estudo elaborado por ele foi remetido à Agência de Regulação de Serviços Públicos (Arsp) pelo colegiado.
Outra proposta do engenheiro à época foi a cobrança de pedágio apenas no sentido Vila Velha-Vitória, devido ao gargalo do trânsito na Praça do Pedágio, em Vitória, nos horários de pico. Essa mudança acabou realmente acontecendo.
Em 2018, o tema continuou em debate na comissão, que convocou o diretor-geral da Arsp, Antônio Júlio Castiglioni Neto. Na ocasião, o então presidente da comissão, deputado Marcelo Santos, cobrou celeridade na implantação da proteção na ponte:
“O Estado não pode mais se omitir com a justificativa fria e evasiva de que a implantação de uma proteção lateral na Terceira Ponte tem um alto custo. As vidas humanas que estão se perdendo ali não têm preço. Temos que encontrar um meio que preserve a linda paisagem do local, mas que principalmente ajude a proteger a vida, que é o mais importante”, disse.
Ainda em 2018, o colegiado conheceu a proposta do arquiteto Carlos Eduardo Calmon. A ideia era a instalação de uma tela de nylon por baixo da ponte para que, se uma pessoa pulasse, ela ficasse presa na rede aguardando o resgate.
Nova fase
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Após 34 anos, Terceira Ponte ganha ciclovia e novas faixas
Fonte: Assembleia Legislativa do ES.
Para mais informações sobre a Assembleia Legislativa do ES acesse o site da ALES
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