Um projeto intitulado “7R’s sua escolha faz toda a diferença”, desenvolvido pelo Núcleo de Integração Social para Pessoas Idosas (Nispi) São Pedro, leva idosos atendidos naquele espaços para viagens a terras e mares até então pouco ou nunca explorados por eles.
É que mesmo morando a poucos quilômetros dos municípios vizinhos ou, até mesmo, avistando alguns pontos da janela de casa, a quase totalidade deles nunca colocou os pés em pontos turísticos tradicionais, como a Praça do Papa, em Vitória, e Prainha, em Vila Velha.
A coordenadora do Nispi, Karine Juvêncio, explicou que o projeto visa dar possibilidades aos idosos de conhecer e explorar o território de Vitória com olhar da preservação ambiental e da sustentabilidade. “Daí o passeio de barco, que é um meio de transporte que causa menos impactos nas vias da cidade”, comentou ela.
O convite para “turistar” pela Grande Vitória tem transformado a vida, o estado de espírito e ativado memórias entre eles. Ao receber o convite para navegar pela Baía de Vitória, as idosas Natalina Rosa Ferreira, de 71 anos, Maria Aparecida dos Santos Pereira, 65, e Terezinha Aníbal Fernandes, 85, ficaram radiantes diante da oportunidade de usar as balsas do novo sistema aquaviário.
Mãe de 13 filhos, 24 netos, vários bisnetos e até tataraneto, dona Terezinha disse que sempre viveu para cuidar da família, da igreja para casa, mas com o falecimento do marido, de um dos filhos e de um neto, todos num período de um ano, seu “mundo” ficou ainda mais limitado a idas à igreja e ao seu quarto.
Benção
Realidade que começou a mudar, quando uma amiga da igreja a convidou para ingressar no NISPI São Pedro. “Foi uma benção em minha vida. Estar no NISPI é o mesmo que está no meio da minha família. E, aqui (dentro da barca para Prainha), é uma viagem que estou fazendo em família”, comentou Terezinha.
Ao desembarcar na Prainha de Vila Velha, dona Terezinha disse que, enquanto trafegava pela Baía de Vitória, fez uma viagem de volta no tempo, mais precisamente ao ano de 1983. O antigo sistema aquaviário operou na Grande Vitória até a década de 1990, quando foi desativado.
“Em 1983, fiz uma viagem para Vila Velha, pegando o barco ali em frente ao Palácio (Anchieta). Que bom resgatar essa memória”, falou emotiva. Ela acrescentou “agora volto para casa para contar nova história. De lá para cá, quanta coisa mudou. Evoluiu muito”.
Com um semblante que misturava felicidade e superação pessoal, Natalina desembarcou de volta à capital afirmando: “Valeu a pena acordar mais cedo do que os outros dias, correr para deixar minha neta na creche, tomar café rapidinho e me arrumar toda para fazer esse passeio”.
Ela falou que jamais havia entrado numa embarcação. “Sempre tive medo”, disse ela. Medo que, ela mesma revelou ter desaparecido, dando lugar a diversão ao embarcar com as amigas do grupo do Nispi. Natalina contou que desde que começou a participar dos encontros e das atividades no espaço tem vivido momentos mais alegres e se sentindo muito melhor.
Sorrisos
Esbanjando sorrisos, Natalina nem de longe parecia ter tido há pouco mais de um ano dois AVCs (Acidentes Vasculares Cerebrais). “Com fé em Deus e a ajuda dos profissionais do Nispi estou melhorando cada dia mais. Antes de participar das atividades no grupo eu vivia de cabeça baixa, não sorria, não olhava pra frente. Agora, sorrio para vida”, disse ela. Nesse momento, Natalina perguntou: “Você vai tirar foto? Então, tire comigo sorrindo”.
Para a idosa Maria Aparecida, o passeio significou “vida nova”. Visivelmente emocionada, ela disse: “Estou muito feliz, feliz mesmo. Agora, estou começando a viver. Até os 60 anos, eu só trabalhava e cuidava dos meus oito filhos. Eu criei sozinha, trabalhando como auxiliar de serviços gerais”.
Maria Aparecida comentou que, agora, o tempo é para ela aproveitar a vida. “Estou aproveitando mesmo, viu! Participo do grupo, das oficinas de arte, passo muito tempo lá (se referindo ao Nispi São Pedro). Eles tratam a gente muito bem. Me sinto muito querida lá”, afirmou ela.
A técnica de referência do Nispi Jheany Santos Ferreira disse que a cada passeio é possível perceber a importância da convivência entre os usuários, resgatando as memórias, criando novas e aprimorando uma bagagem de conhecimento das riquezas do estado.
“É um momento de fortalecer os vínculos do grupo, fazer novas amizades, de se sentirem felizes. O serviço foca no revelar o que está esquecido de que eles podem vivenciar experiências novas e faze-los se sentirem pertencentes nos lugares que visitam “, acrescentou ela.
O projeto culminará com uma horta e um documentário produzido pelos usuários do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos sobre o tema.
A secretária de Assistência Social, Cintya Schulz destacou que “conviver e fortalecer vínculos familiares e comunitários é essencial para fortalecer as pessoas, as famílias e as comunidades. “Sabemos o quanto as pessoas idosas são importantes na dinâmica familiar e para a sociedade. A cidade de Vitória e os trabalhadores do Suas atuam para transformar a vida das pessoas”, frisou ela.
Projeto leva idosos para conhecerem as belezas de Vitória